Mas como isso pode ser verdade? Não tomamos decisões livremente em todos os momentos de nossas vidas, escolhendo fazer certas coisas em detrimento de outras, sem qualquer influência externa direta?
A posição de Sapolsky levanta questões éticas complexas ao desafiar a noção de responsabilidade individual e de culpa por ações prejudiciais. A partir dessa perspectiva, as pessoas não teriam controle real sobre as suas ações e, portanto, não poderiam ser consideradas culpadas pelos seus maus atos. Contudo, Sapolsky oferece uma resposta diferente para este suposto “problema”.
‘Máquinas biológicas’
Em seu livro mais recente, “Determined: A Science of Life Without Free Will” (“Determinado: uma ciência da vida sem livre arbítrio”, em tradução livre), Sapolsky se aprofundou em suas reflexões e observações sobre esse conceito controverso. Nele, o neurocientista refuta os argumentos biológicos e filosóficos a favor do livre-arbítrio, sustentando que eventos cerebrais anteriores, em interação com um ambiente específico, determinam o comportamento.
Especificamente, o cientista enfatiza que tudo o que fazemos é determinado pela nossa biologia, genes, hormônios, educação, infância e pelas diversas circunstâncias da vida que se estendem muito além de nós. Essa interminável cadeia de causas, que remonta aos nossos pais e além, cria uma rede quase infinita de fatores que acabam se traduzindo em nossas ações.
Assim, nesta perspectiva, segundo Sapolsky, não somos seres autônomos como acreditamos ser, mas sim um amálgama dessas influências que se manifestam em nossas ações. Em essência, considera-nos simplesmente “máquinas biológicas”, tal como qualquer outro organismo vivo.